Em 2018, quando ainda era candidato, Doria deu ao tema segurança a centralidade da sua campanha. E seu posicionamento era bem peculiar. Na época, ele prometia o uso da força, a intensificação da letalidade policial e nenhuma condescendência com “bandidinho ou bandidão”.
O líder tucano chegou a afirmar que “bandido que tiver coragem de reagir, a Polícia Militar vai atirar para imobilizar. Mas, se continuar a reagir, a PM vai atirar para colocar no cemitério”. Dois anos depois, já no papel de governador, o discurso, mais uma vez, mudou.
Em resposta às ocorrências envolvendo a agressão de duas pessoas por militares, em Barueri e na Zona Norte da capital paulista, parece que Doria reviu seus conceitos, ou talvez tenha adotado uma retórica mais conveniente ao seu interesse na sua atual fase política.
“Absolutamente condenável as atitudes dos policiais militares que abusaram da força, em duas ações policiais”, afirmou o governador, lamentando pelas cenas de violência expostas na grande imprensa.
Contradições
Aquele que antes das urnas compactuava com a truculência, agora defende o afastamento dos policiais pelo comportamento considerado repugnante e indesejável. Ainda bem. Uma pena que as suas contradições impensadas, ou estrategicamente criadas, muitas vezes gerem consequências negativas. Falta equilíbrio em meio a expectativas, interesses, realidade e uma possível candidatura a presidência em 2022.
Mas, como contra fatos, e atos, não há argumentos, fica fácil entender os caminhos seguidos por Doria. Afinal, ser contra a austeridade no combate a criminalidade, significa apoiar a investigação e a inteligência, estratégias visivelmente ignoradas pelo governo, basta observarmos o sucateamento da Polícia Civil.
Ao virar as costas para aqueles que previnem, repreendem e investigam crimes, ao mesmo tempo em que incita o ódio e a violência, Doria acaba, mesmo que implicitamente, induzindo os profissionais de segurança ao erro. Dessa forma, leva-os a atuar conforme orientado durante a sua campanha.
Posicionamento
“Se ele tivesse adotado essa postura no início da sua gestão, atos como esse dos policiais militares, talvez não acontecessem”, destacou o presidente do Sinpolsan e da Feipol Sudeste, Marcio Pino, totalmente contrário a qualquer manifestação de violência desnecessária.
O representante dos Policiais Civis da Baixada Santista lembra que na época da campanha, Doria fazia promessas envolvendo a criação de mini Rotas, Baeps, ou seja, de uma polícia preparada para matar.
“O governador se mostrava favorável a agressão, à polícia enérgica, valorizando o militarismo. Se o pensamento dele, agora, não é realmente mais esse, porque não investe na Polícia Civil, que é investigativa e consegue, de forma inteligente combater o crime sem o uso da força?! Sabemos que na modernidade os crimes são combatidos por meio da inteligência. Exemplo disso são os casos em que a Polícia Civil esclarece, prende e acaba desmantelando quadrilhas. Raras são as vezes em que é necessário usar a força, pois a inteligência se antecipa e acaba evitando o confronto”, explicou Pino.