A incompetência que quase mata
Ano Novo, velhos problemas. Há mais de uma década, essa é a frase que marca o início de mais 365 dias na vida profissional dos Policiais Civis. E em 2022 não está sendo diferente. O resgate de dois integrantes de uma organização criminosa, presos na cadeia anexo ao 1º DP de Vicente de Carvalho, no Guarujá, mostra não só a certeza da impunidade, como também a audácia de quem está ciente das falhas encontradas na instituição e mais, revela a incompetência da Administração que não conseguiu manter na cadeia dois presos perigosos. A dupla Roberto Prieto Filho e Pablo Ribeiro Lopes Santos foi libertada por homens armados com fuzis. Outro preso também aproveitou a situação para escapar. Nada menos do que uma tragédia anunciada.
A ação pode ser considerada abusiva, porém nada mais é do que o reflexo da falta de responsabilidade e inteligência da administração local. A periculosidade dos presos deveria ter despertado a atenção da Diretoria do Deinter-6 e sua equipe de inteligência. Inadmissível que não tenha sido providenciado um reforço para a Cadeia que conta com estrutura física precária e que, como as demais unidades da região, possui lotação deficitária, sem policiais suficientes. A lotação das cadeias locais, diante das prisões realizadas, deveria ter suscitado ação eficaz, que permitisse a recolha direta para o Centro de Detenção Provisória.
Não bastasse o descaso, a falta de investimento na segurança da região, falta de valorização da categoria, o episódio retrata a incompetência, omissão e falta de comprometimento da Administração do Deinter-6 com a segurança dos Policiais e com o trabalho realizado. Essa incompetência além de ter aniquilado todo o esforço do trabalho envolvido que resultou nas prisões, por muito pouco não causou a morte de policiais que transitaram no local momentos antes do resgate, com viaturas velhas e armamentos obsoletos, incapacitados de estabelecer qualquer enfrentamento. Essa incompetência quase trouxe mortes.
“Claro que os bandidos sabiam da facilidade que teriam para deixar a cadeia, já que estavam diante de uma unidade sem funcionários, com apenas um carcereiro. É o cenário típico das delegacias em toda a região. Isso sem contar que enquanto eles atuam com fuzis, os policiais seguem manuseando ainda armas obsoletas. E a Administração não foi capaz de prever essa vergonha. Inerte, não agiu na busca de recolher os presos em local mais seguro, tampouco providenciou uma escolta para o local. A Administração que alega ter recebido viaturas blindadas, fuzis e policiais, não conseguiu utilizar tais recursos e viabilizou em menos de 24h a libertação dos presos”, questionou o presidente do Sinpolsan, Renato Martins, indignado. E as perguntas não param por aí, sobretudo, diante das lutas constantes para mudar a trajetória da segurança na Baixada Santista e Região.
“Por muito menos, policiais são levados à corregedoria, agora diante da omissão verificada na ação que resultou no resgate dos presos, a Diretoria do Deinter-6 será responsabilizada pelo fato de não ter acionado o seu setor de Inteligência diante da periculosidade dos presos e da precariedade da Cadeia para onde eles foram recolhidos? Por quê não providenciou o reforço da Cadeia? O Ministério Público deverá ser provocado para acompanhar o caso e tentar obter os esclarecimentos que o caso suscita? completou Martins.