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SINDICAL

O dia é da consciência, mas o cenário é de retrocesso

A data é de conscientização, mas quem já viveu na pele o preconceito garante: em pleno século XXI ainda há muito para evoluir. No dia da Consciência Negra, o Sinpolsan conversou com quem mais entende do assunto, ou seja, vítimas do racismo, que até hoje lutam por um País sem desigualdade e com mais dignidade e justiça.

Como diria a professora paranaense Diva Guimarães, de 78 anos, “o preconceito e o racismo matam e a educação salva. A arma que combate e fere esse mal é a cultura”.

A frase foi relembrada pela agente de telecomunicações, Heliana Rosa, que defende o respeito a todas as raças ao invés da criação de uma data específica. O comentário está aliado ao seu pensamento de que “a consciência negra está longe de ser assimilada pela consciência mundial”.

Ao contrário disso, ela afirma ficar surpresa que em 2019 ainda haja o registro de ofensas, as quais negros são comparados a primatas em estádios de futebol e outros lugares.

“Essa data representa que, embora se lute para estancar as marcas deixadas em nossas mentes, carregamos esse pesado fardo. Enquanto não houver respeito e consideração por tudo o que povo negro trouxe de benefício para o desenvolvimento e a cultura do País, caminharemos a passos lentos para um horizonte de liberdade cada vez mais difícil de ver o sol brilhar”, destacou Heliana que, ao integrar a categoria dos policiais civis, ainda é obrigada a enfrentar os abusos do governador.

Luta contra o preconceito

Se como negra ela tinha que ser 1000% no ambiente de trabalho, pois 100% não era suficiente, como profissional de segurança, ela se vê a mercê de um mísero reajuste salarial de 5%, proposto por João Doria. Na verdade, um anúncio que acabará se transformando em 1%, devido a mudanças na previdência.

“Preconceito é o que o governador do estado está praticando, depois de passarmos um longo período servindo a instituição. Fomos desmoralizados com esse aumento, é um tamanho desrespeito que gera intranqüilidade às nossas famílias”.

Para o escrivão Wilson Camargo, o pior preconceito é o encontrado no Brasil, do tipo velado e visto diariamente das formas mais sutis.

“Acho que a sociedade deveria atuar para que todos os dias sejam de conscientizar alguém sobre a ignorância e a pobreza de espírito que é o racismo”, ressaltou.

O escrivão ainda destaca que o atual momento de polarização e ânimos acirrados contribuem para a piora do cenário. “Vivemos em um período difícil, que traz à tona os piores sentimentos, e o racismo é um deles”.

A ausência de negros em postos de comando da policia civil também é um reflexo do preconceito enraizado, garantiu Camargo. “Os negros e descendentes, apesar de serem a maioria, não se vêem representados no topo da pirâmide”.

Mais engajamento

Ativa nas lutas contra o preconceito racial, Cátia Laurindo tenta hoje evitar que os trabalhadores passem pelo mesmo constrangimento sofrido ainda na juventude, quando buscava uma oportunidade.

“O preconceito era e sempre será mascarado, principalmente, no ambiente profissional. No período em que eu procurava uma vaga, o meu currículo passava  de primeira, porque eu tinha estudo e o perfil, mas quando chegava na entrevista eu era reprovada e não entendia o porquê. Depois de muito sofrimento e entendimento foi ficando claro o racismo”, afirmou.

Hoje, ela integra a Secretaria Nacional de Promoção de Igualdade Racial e a Comissão Intersetorial de Políticas de Promoção de Equidade ( CIPPE/CNS) ambas da NCST. Além disso, faz parte da “Marcha das Mulheres Negras de SP”,  da Diretoria Municipal da UNEGRO e é assessora da Secretaria Racial do Sindicato dos Condutores de SP.

Apesar de estar presente em tantos grupos, ela ainda observa as dificuldades de ser mulher e negra no Brasil. “Sem dúvida nenhuma é muito complicado, não só aqui, mas mundialmente falando”.

Desanimada, Cátia chega a falar em retrocesso diante do cenário político atual. “Parece que estamos novamente com nó nos pés e chicotes preparados para nos bater sem dó ou piedade. Cada dia está pior”.

“A fé é a única esperança do povo brasileiro, mas a luta continua e como mulher, mãe, cidadã e negra não vou desistir de viver, lutar e sonhar”, finalizou Cátia Laurindo.

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