Mais de doze anos de desvalorização
Doze anos se passaram e parece que o trecho da música de Roberto Carlos, “Daqui pra frente tudo vai ser diferente”, continua fazendo sentido apenas nas histórias de amor. Pelo menos essa é a impressão dos Policiais Civis que relembram, neste dia 16, a maior greve já organizada pela categoria.
Na ocasião, eles lutavam, sobretudo, por aumento salarial e melhores condições de trabalho. Mais de uma década se passou, nesse período o governo mudou, mas para os profissionais de segurança parece que o tempo congelou. Eles continuam buscando valorização, investimentos e estrutura adequada. E assim como no passado continuam recebendo muitos “nãos” e até mesmo boicote a sua profissão.
A paralisação, realizada por tempo indeterminado pela corporação, atingiu delegados, investigadores, escrivães e peritos. Eles pediam 15% de aumento para aquele mesmo ano e 12% para 2009 e 2010. A proposta do poder público era um incremento linear de 6,2%. Isso em meio a um cenário de altas taxas de homicídio, conforme revelado pelo Atlas da Violência.
Dois anos antes, por exemplo, foram registrados 62.517 homicídios no Brasil. Foi a primeira vez na história que o País superou o patamar de trinta mortes por 100 mil habitantes (taxa igual a 30,3). O reflexo deveria ser a valorização de quem escolheu salvar a população. Mas desde aquela época, a segurança estava inserida apenas nas promessas de eleição.
Ápice
O sucateamento e a falência da instituição já estavam estampadas nas manchetes dos jornais e nos programas de televisão. A falta de diálogo instigava ainda mais a mobilização, enquanto a falta de respeito levava os trabalhadores à exaustão. E se não bastasse toda essa situação, a paralisação teve o seu ápice no dia 16 de outubro de 2008 quando houve o confronto entre civis e a Tropa de Choque Militar, impulsionado pelo próprio governo, deixando feridos.
A estratégia do Estado foi tentar enganar a opinião pública dizendo que existia uma briga entre as duas polícias para tirar o foco das reivindicações dos servidores. O fato, inclusive, foi determinante para o fim da greve, já que os Policiais Civis, desanimados, consideraram inadmissível o incentivo ao embate entre categorias coirmãs.
“O passado e o presente da categoria se misturam de forma negativa, sempre com o governo tentando desmerecer as nossas reivindicações. Ao mesmo tempo, mostramos que mais de dez anos depois continuamos firmes em busca dos nossos objetivos. Olhar pra trás e observar que as dificuldades já eram enormes não nos desanima, apenas nos dá força para seguir em frente. Não podemos mudar o passado. Mas temos chance de reverter o futuro”, afirmou o presidente do Sinpolsan, Marcio Pino.