Síndrome de burnout: Sucateamento da Polícia Civil pode levar categoria a transtornos psicológicos
“Estado de extremo esgotamento de recursos, resultante de uma exposição crônica ao estresse laboral”. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Muito se fala em déficit de efetivo policial nas delegacias e as consequências dessa falta de funcionários para a segurança da sociedade.
No entanto, além de virar as costas para o combate a criminalidade, o governo ainda deixa milhares de pais e mães de família a mercê de transtornos físicos e psicológicos gerados pelas condições de trabalho desumanas, as quais policiais civis são submetidos diariamente. Vai muito além de estresse e cansaço.
Beira o esgotamento, levando a uma doença conhecida como Síndrome de bornout. Não é apenas depressão ou ansiedade. Muito menos frescura ou exagero. É um conjunto de sintomas, que tendem a se agravar, sendo necessária intervenção médica e, na maioria dos casos, afastamento do principal causador da enfermidade: o local de trabalho.
Não é à toa que o número de afastamentos de profissionais, verificados em Distritos Policiais, tem aumentado consideravelmente. Se não bastasse a responsabilidade de preservar a integridade física e mental de toda a sociedade e a frequente exposição a situações de risco, a categoria ainda precisa lidar com a péssima estrutura oferecida pelo poder público, incluindo jornadas excessivas, plantões nas folgas e baixo poder de compra.
O cenário perfeito para a instalação de doenças psicológicas, que levam os trabalhadores a consultórios psiquiátricos. Isso sem contar aqueles que, muitas vezes, não pedem ajuda e acabam tirando a própria vida. O filme “Um dia de fúria” representa claramente o comportamento de um indivíduo com a síndrome de burnout, ou seja, liberação excessiva de agressividade.
Apesar de o trabalho ser o ponto de partida, as consequências atingem o relacionamento familiar, os amigos e até mesmo a vida sexual. É grave e precisa, sim, de tratamento prolongado por meio de medicamentos e psicoterapia. “Quadro grave com alteração de humor, perda de controle das próprias ações e um esgotamento que faz a vida começar a perder importância. É a síndrome dos tempos modernos, onde a competitividade é abusiva e não há mais a antiga estabilidade profissional”, destacou o psiquiatra, Miguel Ximenes, ao abordar o tema. Segundo ele, tudo começa com um quadro leve de depressão que, aos poucos, vai progredindo.
“A doença desencadeia sintomas variados como mudança de comportamento no trabalho e também no ambiente familiar. Além disso, causa irritação, intolerância, exaustão, não há mais vontade de sair de casa. Gera uma alteração no comportamento por pressão exclusiva no ramo laboral, que impede o indivíduo de ter uma vida normal”, explicou o especialista, apontando o público masculino com idade entre 30 e 45 anos como o mais suscetível por estar na fase mais produtiva da carreira.
No entanto, também aflige mulheres e pessoas mais jovens. A forma de prevenir, mencionou Ximenes, seria tentar se adaptar àquela situação sem que a mesma agrida o indivíduo. “Porém, na prática, não é tão simples, pois o estresse tira a pessoa do equilíbrio”, garante o psiquiatra. Por isso, a importância de pedir ajuda ao perceber que algo está errado.
É preciso estar atento a sintomas como exaustão, baixa energia, cansaço, fadiga, insônia, cefaléia constante, transtornos gastrointestinais, falta de ar, irritabilidade, ansiedade, humor depressivo, rigidez de postura, negativismo, desinteresse, insensibilidade e insatisfação ocupacional. Evitar relacionamentos fora de casa, o contato íntimo com familiares, esposas, filhos, desinteresse total do sexo, realização de tarefas automaticamente são outros sinais de que a pessoa está sendo, literalmente, consumida pelo trabalho.
“É triste perceber os policiais adoecendo cada vez mais. A própria função já é suficiente para desestabilizar a categoria, pois vivem sob a mira de um revólver, sobretudo, em um país onde os bandidos são mais bem equipados do que os profissionais de segurança. No entanto, no estado de São Paulo, por exemplo, vai muito além disso. Fica difícil suportar. O objetivo do Sinpolsan é alertar os trabalhadores para evitar que cheguem no limite. Temos que estar atentos a nossa saúde, ela deve ser prioridade e o Sindicato está sempre à disposição para ajudar”,
disse o representante dos Policiais Civis da Baixada Santista e região, Marcio Pino.
Para tratar a Síndrome de Bornout três medidas básicas são necessárias, medicação para ansiedade e depressão, terapia individual ou grupal e desligamento temporário do olho do furacão. O resultado do tratamento vai depender da predisposição do paciente. “Cada um tem uma personalidade e também vale lembrar que alguns fatores no comportamento do indivíduo podem fazer com que tenha predisposição a doença”, ressaltou Ximenes.