fbpx
SINDICALSOCIAL

Mãe policial: desafios dentro e fora da delegacia

Elas têm a proteção como palavra de ordem, arriscam a sua vida para mantê-los em segurança e durante a pandemia entraram para o grupo de essenciais. Dessa vez, não estamos falando de Policiais Civis, apesar de todas as semelhanças. Mas, sim, de um ser humano também capaz de ficar na mira de um bandido, caso o objetivo seja garantir o bem estar dos filhos.

Se a trajetória da maternidade já é, normalmente, marcada por sacrifícios e abdicação, quase sem nenhuma folga, com a crise sanitária, esse cenário foi potencializado. E, ainda que não estejamos falando de mulheres da corporação, há aquelas que são heroínas dentro e fora de casa, pois escolheram o combate à criminalidade como carreira, levando para as delegacias o instinto e o cuidado de quem tem o privilégio de gerar outra vida.

Elas têm garra, fibra e força, mas sem perder a ternura e a sensibilidade diante dos desafios e dificuldades. A mãe policial vive os obstáculos da profissão sucateada, ao mesmo tempo em que tenta superar os dilemas da maternidade. Sem rede de apoio, Claudia é uma das que precisa se desdobrar para cumprir com todos os papeis.

“Optei por trabalhar no plantão central do município, que é, majoritariamente, noturno, pois assim posso dar suporte aos meus filhos durante o dia. No momento atual, eu não teria como dar conta de tudo se tivesse que atuar em horário convencional. Claro que essa opção implica em muitos sacrifícios, em termos de saúde e rotina, porém é o que entendi ser o melhor para acompanhar o desenvolvimento deles”, disse a policial.

Segundo ela, as crianças já se acostumaram com essa rotina e entendem quando a mãe precisa dormir durante o dia, por exemplo. “Procuro tentar separar um pouco a mulher policial da mãe, mas eles ainda entendem que sou uma “heroína”, pois os amigos acham o máximo quando descobrem a minha profissão. Minha filha fez um poema, recentemente, no dia das mulheres, falando sobre eu ser uma inspiração e isso me emocionou muito”, destacou Claudia, que precisou abrir mão do aleitamento materno exclusivo do primeiro filho, uma situação sacrificante para qualquer mãe.

“Não pude emendar férias com a licença por coincidir com temporada de verão e, em Praia Grande, não podemos tirar férias nesse período. Foi meu primeiro desafio parar de amamentar antes dos 6 meses de vida dela, porque não teria como fazer isso, estando em plantão de 12 horas. Fora isso, tive apoio dos colegas e dos superiores nas vezes em que precisei, por questões de saúde. Nesse ponto, todos se ajudam, há uma compreensão e um respaldo legal. Mas, sempre há uma autocobrança em dar conta de tudo, inegavelmente”.

Chamada na Academia de Polícia de “3 em 1”, Cida também guarda uma história marcada por muita dedicação aos filhos gêmeos Vitor e Danilo, hoje com 30 anos. Os jovens, que nasceram prematuros, com pouco mais de 2 quilos, chegaram a ir para os plantões com a mãe, que não tinha com quem deixá-los. “Tive muito problema com empregada”, mencionou Cida, lembrando dos desafios de cuidar dos dois meninos, enquanto enfrentava plantões noturnos.

“Descobri que estava grávida aos três meses de gestação. Fiz academia grávida de gêmeos e não tive direito a licença maternidade, porque na época do concurso, em 90/91, a gente tinha que tomar posse depois de dois anos, ou seja, perdia todos os direitos de funcionário público. Com isso, tive que trabalhar depois de 15 dias que eu ganhei eles prematuros de 7 meses. Dois ratinhos. Ia vazando leite”, contou Cida.

Sempre que estava de plantão, ela saía quatro horas da manhã para amamentar e trocar fraldas. “Deixava tudo organizado em cima da cama para facilitar, pois precisava voltar para a delegacia. Em algumas ocasiões, tive que levar os dois para o plantão, mostrei para eles drogas, como era o crime. Foi muito difícil para mim, mas eu tive muita sorte também no decorrer da minha carreira, com muita gente boa. Aprendi que os homens não são preconceituosos, as mulheres sim”.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo